20120925

Como combater o desejo irresistível de comer

Um cupcake está chamando.
Você praticamente pode sentir o gosto dessa delícia doce e cremosa. Você quer tanto comer um que não consegue pensar em mais nada. Mas será que você realmente está com vontade de sentir esse gosto — ou será que você apenas busca as associações agradáveis que ele traz? Ou será que você precisa comer um em parte por saber que não deveria? Será que lutar contra essa fissura acabará com ela ou a tornará pior?

Os cientistas têm estudado todas essas questões para tentar compreender as ânsias por comida. As pesquisas nessa área têm ganhado um novo senso de urgência devido à epidemia de obesidade que acomete os Estados Unidos e já começa a dar sinais no Brasil e em outros países, uma vez que os desejos incontroláveis por comida são amplamente vistos como uma forte influência sobre o comportamento das pessoas que vivem beliscando, têm compulsão por comida ou bulimia.

Algumas das descobertas feitas até o momento:
Os desejos incontroláveis por comida ativam os mesmos circuitos de recompensa do cérebro que as fissuras por drogas ou álcool, segundo mostraram exames de ressonância magnética — testes que medem a atividade cerebral ao detectar alterações no fluxo sanguíneo.

Quase todas as pessoas têm desejos incontroláveis por comida de vez em quando, mas as mulheres dizem ter esses acessos com mais frequência do que os homens — e os mais jovens têm mais vontade de comer doces do que os mais velhos.

Em um estudo, 85% dos homens disseram se sentir satisfeitos após se renderem aos seus desejos incontroláveis por comida; entre as mulheres, esse percentual foi de apenas 57%.

Apesar de muitas mulheres relatarem uma vontade incontrolável por ingerir sal, gordura ou combinações bizarras de alimentos durante a gravidez, pesquisadores não têm encontrado provas científicas. Eles desconfiam que folclore e poder da sugestão sejam as causas.

Durante décadas, pesquisadores suspeitaram que os desejos por comida fizessem parte dos esforços inconscientes do corpo para corrigir deficiências nutricionais. O desejo por um bife poderia indicar a necessidade de proteína ou ferro, segundo essa teoria. Os chocólatras poderiam ter baixos níveis de magnésio ou outras substâncias químicas que alteram o humor e que estão presentes no chocolate.

Mas um número crescente de pesquisas coloca em dúvida essa noção. Afinal, poucas pessoas sentem desejo de consumir verduras cheias de vitaminas.
Ao contrário, estudos mostram que as fissuras por comida envolvem uma mistura complexa de fatores sociais, culturais e psicológicos, que é fortemente influenciada por estímulos ambientais.

Enquanto o chocolate é, de longe, o tipo de alimento que mais provoca desejos nos EUA, mulheres japonesas têm uma propensão maior a sentir desejo por sushi, segundo um estudo recente. E apenas 1% dos jovens egípcios e 6% das jovens egípcias relataram sentir desejo por comer chocolate, de acordo com um levantamento realizado em 2003. "Muitas línguas não têm uma palavra para 'craving'", diz a psicóloga Julia Hormes da Universidade de Albany, referindo-se ao termo em inglês que pode ser traduzido no Brasil como "fissura". "Esse conceito parece ser importante apenas na cultura norte-americana", diz Hormes.

Nos EUA, cerca de 50% das mulheres que sentem desejo por chocolate dizem que suas fissuras alcançam o pico durante o início de seu período menstrual. Mas os pesquisadores não encontraram nenhuma correlação entre as fissuras por comida e os níveis hormonais — e as mulheres que já chegaram à menopausa não relatam uma queda significativa na vontade de comer chocolate, mostrou um estudo de 2009. Alguns psicólogos suspeitam que as mulheres possam estar se "automedicando", uma vez que doces e carboidratos desencadeiam a liberação de serotonina e de outros químicos no cérebro que causam bem-estar.

Um estudo realizado no ano passado com 98 estudantes do sexo feminino da Universidade da Pensilvânia constatou que aquelas que relataram ter mais fissuras alimentares relacionadas ao ciclo menstrual também tinham um histórico de dietas e distúrbios alimentares, além de apresentarem altos índices de massa corporal. "Essas parecem ser mulheres que pensam: 'Eu não deveria comer chocolate de jeito nenhum'. Mas, em seguida, elas não resistem e comem uma barra inteira", diz Hormes, que coordenou a maior parte da pesquisa realizada na Universidade da Pensilvânia. "Quanto mais elas tentam restringir seu consumo, mais elas sentem essas fissuras."

Geralmente, as pessoas sentem desejo por alimentos de que gostam — mas nem sempre é assim. "É possível gostar de um alimento sem sentir um desejo incontrolável por ele, da mesma forma que é possível sentir fissura por um determinado tipo de alimento sem que se goste dele", diz Marcia Pelchat, psicóloga alimentar da empresa de pesquisas Monell Chemical Senses Center.

Um exemplo é pipoca vendida nos cinemas. Segundo Pelchat, "a maioria das pessoas admite que a pipoca vendida nos cinemas não é a melhor do mundo, mas se a fila da pipoca estiver grande demais e você não conseguir comprar, você pode bem ficar desejando a pipoca."

Exames de ressonância magnética funcional feitos por Pelchat mostraram que os desejos fortes por alimentos causados pela memória sensorial ativam as mesmas regiões do cérebro que as fissuras por álcool e drogas. Entre essas regiões cerebrais estão o hipocampo, que auxilia no armazenamento das memórias, a ínsula, envolvida nas percepções e nas emoções, e o núcleo caudado, que é importante para o aprendizado e para a memória. Esse circuito é impulsionado pela dopamina, neurotransmissor responsável pelo aprendizado movido a recompensa.

Especialistas dizem que essas fissuras alimentares são aceitáveis de vez em quando — digamos, por panetone no Natal, ou por escolhas alimentares saudáveis durante o restante do ano. Mas se render às tentações constantemente pode fazer com que esses desejos saiam do controle.

Pesquisadores que estudam o cérebro observaram que, quando as pessoas bombardeiam seus circuitos de recompensa constantemente com drogas, álcool ou alimentos ricos em açúcar, muitos dos receptores de dopamina de seu sistema param de funcionar para impedir uma sobrecarga. E, com um número menor de receptores de dopamina trabalhando, o sistema começa a apresentar mais e mais desejos, tornando-se insaciável. "Logo, um cupcake já não é suficiente. A pessoa tem que se entupir e nem assim conseguirá obter a recompensa que procura", diz Pam Peeke, médica e escritora de livros sobre alimentação. Ela observa que o vício de comer cria alterações no córtex pré-frontal, que normalmente domina a impulsividade e os ímpetos viciantes.

Qual é a melhor maneira de lutar contra essas fissuras? Muitos estudos mostraram que, quanto mais as pessoas tentam restringir um alimento, mais elas o desejam. Por isso, alguns especialistas recomendam aceitar a fissura e controlá-la.

Um estudo de 2003 do University College de Londres constatou que as pessoas que comiam chocolate só durante ou logo após as refeições conseguiram parar de ingerir o alimento mais facilmente do que aquelas que ingeriam chocolate com o estômago vazio.

A terapia cognitivo-comportamental também pode ser útil. Pesquisadores de Adelaide, na Austrália, entregaram a 110 chocólatras declarados um saco de chocolates para ser carregado onde quer que eles fossem durante uma semana, e aplicaram a metade delas uma "reestruturação cognitiva" — questionando suas ideias a respeito do chocolate —, enquanto a outra metade passou por uma "neutralização cognitiva" — para aceitar e observar suas ideias sem agir a partir delas. Ao final do experimento, o grupo que passou pela neutralização tinha três vezes mais chocolates do que o outro grupo.

Exercícios também podem ajudar. Mulheres que caminharam vigorosamente sobre uma esteira durante 45 minutos apresentaram reações cerebrais bastante inferiores a imagens de alimentos, segundo um novo estudo da Universidade Brigham Young, nos EUA.

Outras formas de distração são mascar chiclete e cheirar um produto não relacionado a alimentos. Aspirar o aroma de jasmim, por exemplo, ajuda a ocupar os mesmos receptores que atuam nos fortes desejos alimentares.
E estudos mostram que, quanto mais tempo as pessoas adiam a ingestão do alimento desejado, mais fracas fica a fissura. Fonte The Wall Street Journal.

Narciso Machado


20120922

Muito além da gestão


Entre uma pincelada e outra, o executivo Geraldo Pontes, da Fiemig, exercita seu lado artístico enquanto pensa sobre os novos desafios dos administradores em um cenário de mudanças constantes

Quando Jimi Hendrix perguntou em seu primeiro disco em 1967: "Are You Experienced?", provavelmente o guitarrista estava se referindo às experimentações psicodélicas que despontavam naquele momento de grandes transformações socioculturais.
O que os executivos buscam hoje em experimentos que vão das artes plásticas à astrofísica não é muito diferente do que o músico propunha. Eles querem entender um mundo em movimento onde a tecnologia, a economia criativa, as redes colaborativas e a nova divisão de forças no planeta geram desafios inusitados para a gestão.

Com o propósito de tirar os executivos da zona de conforto e pensar sobre esses temas e uma gestão contemporânea à brasileira, a Fundação Dom Cabral montou o curso "FDC Experience". Com ele, a instituição segue os passos de escolas de negócios renomadas como Stanford e Harvard que incluíram as artes e ciências humanas no ensino de liderança.

Em quase dois dias, 300 profissionais de vários estados brasileiros, de áreas diversas, que ocupam cargos de gestores em suas companhias, experimentaram na sede da FDC em Nova Lima (MG) situações que aparentemente não têm muito a ver com administração. Eles pintaram, grafitaram, fizeram caleidoscópios, jogaram xadrez, videogame e ouviram palestras de filósofos, físicos e pensadores. Entre um rabisco e uma surpresa, pensaram sobre o modo como podem dirigir melhor suas empresas em um cenário de mudanças constantes.

"É bom poder sair um pouco da pressão do dia a dia. As ideias surgem quando vemos coisas diferentes", diz Rosana Martins, vice-presidente de recursos humanos da Schneider Electric. Ela foi uma das participantes de uma experiência onde todos entravam em uma sala escura, vendados, para discutir legado e a importância das conexões sociais. "Não pensava muito sobre a morte antes daqui."

O objetivo do programa, segundo Roberto Sagot, diretor executivo da FDC, é justamente trabalhar com a subjetividade. "Para fazer gestão hoje não se pode considerar apenas os aspectos cartesianos", explica. As empresas têm hoje várias gerações convivendo sob o mesmo teto, onde pessoas de diferentes culturas atuam no mesmo negócio. "O desafio é muito mais comportamental. É saber trabalhar junto". A parte lúdica do programa, segundo ele, é inspirada em museus e exposições de arte. "Brincar é coisa séria". O professor Ricardo Carvalho ressalta: "Apenas 3% dos insights criativos acontecem no escritório."

A empresária Alayde Garcia, de 68 anos, dona do frigorífico Vitello, veio do Amazonas com a filha para participar do curso. Ela fez grafite virtual e topou todas as propostas do programa. "Quero quebrar preconceitos, me desarmar e conhecer o novo. Ainda me sinto muito disposta a continuar trabalhando", diz. Esse espírito de aventura juntou cabelos brancos e jovens em discussões acaloradas sobre temas diversos como o futuro do mercado editorial, das cidades e até do empreendedorismo social.

A tecnologia, inevitável e desafiadora, foi um assunto recorrente nos debates por preocupar tanto os jovens quanto os mais velhos, ainda que por diferentes razões. "Mais de 40% dos adolescentes americanos poderiam mandar uma mensagem de texto de olhos vendados", afirma Luli Radfahrer, um dos palestrantes. Para os jovens, é fácil perder o controle do tempo diante das inúmeras possibilidades e ferramentas tecnológicas. Os mais experientes, por sua vez, ainda se amedrontam diante da rapidez com que precisam se atualizar. "Digerir o Facebook é como entrar em uma longa estrada sem saída", disse um participante.

Um labirinto mostrava fotos, vídeos e textos sobre a história do Brasil e a evolução da gestão moderna. Nele, obras sem legendas conduziam ou confundiam sensorialmente o participante no trajeto até uma sala para reflexões. Em um único ambiente estavam Andy Warhol, Caetano Veloso, Max Weber, Peter Drucker e Clarice Lispector. "Quando o caminho é sinuoso, precisamos pensar mais para tomar a decisão certa", disse um executivo ao fim do percurso.

A maneira como os brasileiros administram os negócios, com flexibilidade e improviso, é ressaltada em várias plenárias como um exemplo para os dilemas da gestão moderna. Em uma sociedade que se conecta cada vez mais em um emaranhado de redes, a experiência do país na maneira como organizamos as coisas pode ser valiosa. "Conhecemos isso muito bem porque estamos habituados a lidar com a complexidade", diz a filósofa Viviane Mosé. Na conclusão do curso, o moderador afirma que o modelo de gestão está mudando, mas não existe uma fórmula a ser seguida nesse momento. "É preciso levar as interrogações para casa."

Enquanto termina seu segundo quadro, em um espaço reservado à pintura, pouco antes do fim do programa, o consultor Geraldo Pontes, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemig), diz que ficou feliz ao perceber o otimismo em relação ao papel que o Brasil pode exercer nessa nova força de encarar a gestão. "É o momento de se quebrar paradigmas para acompanhar essas mudanças", afirma. "Acho que é isso que vou dizer para o pessoal do trabalho amanhã." Fonte Jornal Valor.


Narciso Machado 

NCM Business Intelligence

Muito além da gestão