20120729

Executivos nômades seguem as Olimpíadas

Jeremy Edwards teve seu momento olímpico por acaso. Este australiano de 49 anos é o administrador do Greenwich Park de Londres, que vai sediar as competições de pentatlo moderno e equestres dos Jogos Olímpicos deste verão europeu. Ele comanda uma equipe de cerca de 80 administradores que estarão encarregados de áreas que vão da limpeza e tratamento de resíduos a questões médicas e veterinárias.

Edwards vem trabalhando em todos os jogos desde a Olimpíada de Sydney, em 2000, e tudo começou com duas garrafas de vinho em um jantar na casa de um amigo. Um dos outros convidados naquela noite era um empreiteiro que estava trabalhando para o comitê organizador dos jogos em Sydney e sugeriu a Edwards que se candidatasse a um trabalho. "Tinha um emprego onde ficava das 9h às 17h e do qual já estava ficando cansado. Isso é bom para algumas pessoas, mas não para mim", diz.

Após uma entrevista, ele conseguiu um cargo de gerenciamento de logística e compras do centro equestre da Olimpíada de 2000, e diz que depois disso não olhou mais para trás. "Apaixonei-me pelo conceito, pela ideia de organizar uma festa para o mundo", afirma. Edwards descreve Londres como o "auge" de sua carreira. "Gosto da pressão e do tamanho do desafio", explica.

Esse executivo faz parte de uma raça de trabalhadores nômades que desenvolvem suas carreiras pulando de um grande evento esportivo para outro. Há quase 700 funcionários do comitê organizador da Olimpíada de Londres (Locog, na sigla em inglês) que já trabalharam em jogos anteriores, Copa do Mundo ou outros.

Eles prosperam com a intensidade e natureza única desses trabalhos, que têm data certa para começar e terminar e que exigem malabarismos com uma série de parceiros pouco convencionais- além da pressão pública para realizar algo que o mundo inteiro vai assistir e julgar.

Kristin Carpenter, uma canadense de 29 anos que ocupou uma função administrativa na Olimpíada de Inverno de Vancouver, há dois anos, hoje supervisiona as operações da Horse Guards Parade, lar das disputas de vôlei de praia. Ela atua no controle das vendas de ingressos, garante que a numeração das cadeiras será respeitada e coordena as agendas de treinamento dos atletas no local.

Ela foi procurada pelo comitê organizador da Olimpíada de Inverno de Vancouver em uma feira de empregos realizada na Universidade da Colúmbia Britânica. "Depois daquela conversa, mudei meu curso para administração esportiva e de lazer", diz. Após o término dos jogos, Kristin fez suas malas e saiu em busca de uma colocação na organização da Olimpíada de Londres. "Percebi que esse era o trabalho certo para mim. Decidi ir a Londres e esperar até que eles me contratassem", conta.

Para Paul Deighton, um ex-sócio do Goldman Sachs que saiu do banco para se tornar o principal executivo do comitê organizador da Olimpíada de Londres, o que motivou essa mudança foi a oportunidade de liderar "o maior acontecimento em minha cidade desde que estou vivo".

Mas, após 20 anos no setor privado, a função exigiu ajustes. Primeiro, Londres venceu a disputa para sediar os jogos quando a economia estava aquecida, e a crise financeira significou que ele teve de organizar o evento em tempos de grande austeridade. Isso colocou mais pressão sobre os gastos públicos e afetou boa parte das decisões. "Tudo está sendo muito mais difícil, pois o governo precisa resolver uma complicada agenda de políticas públicas que não se presta simplesmente a melhorar o resultado para o comitê", diz.

Deighton acrescenta que o intenso escrutínio público tem sido outro desafio. "A pressão para que tudo funcione perfeitamente é enorme. É um projeto incrivelmente complexo", diz. "Todo mundo está observando você trabalhar e muitas vezes as coisas não se encaixam nem funcionam naturalmente". Ao mesmo tempo, ele ficou "chocado" pelo ritmo lento da tomada de decisões. Enquanto em um banco tudo envolvia ideias sobre como ganhar mais dinheiro, em um projeto do setor público trata-se de gerenciar expectativas, com as preocupações políticas exercendo uma força maior.

Para Edwards, veterano de Olimpíadas, Londres 2012 trouxe dificuldades inesperadas. A mais notável foi ter de enfrentar as autoridades e os moradores locais, preocupados com danos ao parque com sua transformação em um local de eventos olímpicos. "Os outros espaços em que trabalhei foram basicamente pedaços de terra sem uso", explica. Por outro lado, em Londres "tivemos alguns grupos bastante barulhentos, que claramente não nos queriam aqui".

Ele diz, no entanto, que isso o ajudou a desenvolver habilidades valiosas como atender diferentes públicos e administrar demandas distintas. "Tem sido difícil, mas também uma grande experiência educacional para mim. Não me lembro de coisa parecida em Sydney", afirma.

Luca Baracchi, um italiano de 33 anos cuja primeira experiência com uma Olimpíada foi o trabalho voluntário nos jogos de Atenas, em 2004, é um gerente de protocolo em locais de eventos para Londres 2012. Seu trabalho é garantir que as cerimônias do Comitê Olímpico Internacional para a entrega de medalhas aconteçam com tranquilidade e que as pessoas certas estarão nos lugares certos e na hora certa.

Baracchi admite que "não se trata de um emprego comum", mas assim como Edwards, isso foi o que mais o atraiu. Depois de Atenas, ele deixou um emprego burocrático e estável na Itália e foi participar da organização dos Jogos de Inverno de Turim, em 2006. Ele diz que a experiência de lidar com diferentes culturas o ajudou a conseguir um emprego agora em Londres.

Para Baracchi, o lado ruim de ser um nômade olímpico é o fato de ter de passar por uma nova série de entrevistas de emprego toda vez que ele se candidata a trabalhar na organização de novos jogos. Talvez o maior desafio para muitos desses trabalhadores seja descobrir o que fazer em seguida.

Deighton, porém, diz que a natureza exigente da função que está exercendo na Olimpíada de Londres não lhe dá nem mesmo a oportunidade de pensar em qual será seu próximo emprego. Os nômades têm uma ideia mais clara do que acontece em seguida. "Tenho certeza de que participarei de pelo menos mais uma Olimpíada", afirma Carpenter. "Não existe um ponto mais alto nessa carreira", ressalta.

Edwards, por sua vez, já pensa em desistir da organização central. "Não faria isso de novo se fosse convidado, mas gostaria de trabalhar em um comitê organizador como consultor. Seria uma boa oportunidade para aprender algo novo", revela. Enquanto isso, a tarefa de Baracchi após o fim dos Jogos Paraolímpicos, em setembro, será mais pessoal. "A primeira coisa que vou organizar quando tudo isso passar será a minha própria lua-de-mel." Fonte Jornal Valor e Financial Times -  (Tradução de Mario Zamarian)

Narciso Machado

NCM Business Intelligence







Executivos nômades seguem as Olimpíadas

20120721

A descoberta dos cientistas de dados

Para Julio Guedes, que comanda a área na Serasa Experian, as empresas que não souberem traçar estratégias de negócios com base nos dados dos consumidores correm o risco de perder mercado.

Há dois anos, o estatístico Julio Guedes foi convidado pela Serasa Experian para comandar uma área em franca expansão no Brasil: a de mineração de dados, ou 'data mining', no jargão do mercado. Hoje no cargo de 'head of analytics' da empresa e liderando uma equipe com mais de 50 pessoas, o executivo tem a missão de coletar e analisar os dados gerados pela companhia, que recebe mais de 4 milhões de consultas de crédito por dia.

Tanto volume de informações tem como objetivo gerar valor para a organização e apoiar as estratégias de negócios dos clientes. "O crescimento de dados gerados pelos consumidores crescerá exponencialmente nos próximos anos. As empresas que não souberem o que fazer com eles correm o risco de perder mercado", afirma Guedes. Para o Brasil, essa avaliação é ainda mais preocupante em razão da escassez de profissionais qualificados nessa área. "As organizações estão começando a ter a figura do cientista de dados, mas a formação nesse setor ainda é deficiente", afirma Pedro Desouza, gerente sênior da EMC, empresa de soluções e produtos de software.

Ele explica que, em mercados maduros como os Estados Unidos, já existem cientista de dados ocupando cargos de vice-presidência, com o nome de Chief Analyst Officer (CAO). Essa deve ser uma tendência para os próximos anos no Brasil, especialmente em indústrias como a de seguros, varejo, tecnologia e bens de consumo - isso porque podem definir estratégias de marketing ou de relacionamento com os clientes com base nos dados gerados por eles. "Além disso, há empresas que conseguem 'monetizar' as informações obtidas, vendendo-as para outras companhias", afirma.

Em uma distribuidora de energia, por exemplo, é possível traçar o perfil dos moradores de uma casa apenas analisando seus hábitos de consumo. "Com essas informações em mãos, a empresa pode negociá-las para outras companhias e até desenvolver planos especialmente para aquele tipo de consumidor", diz.

Por ter um perfil tão analítico, a atividade de mineração de dados exige profissionais com formação na área de exatas: as equipes são normalmente compostas por estatísticos, matemáticos e engenheiros. Esse é o caso da TIM, que tem o engenheiro químico Felipe Figueiredo liderando sua área de 'marketing integration', que faz a análise de informações geradas pelos clientes da operadora e as transforma em decisões de marketing e relacionamento.

Figueiredo trabalha há dez anos com a área de dados no setor de telecomunicações e hoje comanda uma equipe de 40 pessoas. "O nosso desafio é oferecer produtos e serviços que atendam às necessidades dos clientes sem invadir sua privacidade. Precisamos entender seus hábitos de consumo para suprir suas necessidades de maneira mais efetiva."

Na TIM, a área de dados está vinculada à de marketing, mas a posição desse departamento costuma variar no organograma das empresas. "Por ser um híbrido de tecnologia e negócios, essa é uma atividade que pode estar ligada a diferentes diretorias. O ideal, no entanto, é que ela tenha autonomia em relação a outras áreas para poder atuar de maneira mais estratégica", afirma Pedro Desouza, da EMC.

Uma prova de que a área tem ganhado força nas companhias é justamente o aumento na demanda por gente com essa expertise. Na Serasa Experian, a equipe dedicada a dados cresceu 50% nos últimos dois anos.

De acordo com Julio Guedes, os profissionais precisam unir raciocínio lógico apurado com domínio de softwares estatísticos e sistemas computacionais. É raro encontrar quem tenha esse conhecimento técnico ou alguma qualificação específica. "Nossa estratégia em muitos casos é contratar jovens que estão no início da carreira e formá-los internamente. Além disso, recrutamos profissionais que tragam boas experiências de outros mercados", afirma.

Felipe Figueiredo, da TIM, explica que os bons especialistas nesse segmento são disputados e costumam já estar bem posicionados em grandes empresas, o que demanda esforço extra das companhias em programas de atração de talentos. "É preciso oferecer um robusto plano de cargos e carreira", explica. Fonte Jornal Valor.
Narciso Machado




NCM Business Intelligence

A descoberta dos cientistas de dados

20120714

E-books ajudam editoras a entender hábitos do leitor.

O leitor típico leva apenas sete horas para ler o último livro da trilogia "Jogos Vorazes" no leitor digital Kobo — cerca de 57 páginas por hora. Quase 18.000 leitores que usaram o Kindle, da Amazon.com, marcaram a seguinte frase do segundo tomo da série de Suzanne Collins: "Porque, às vezes, acontecem coisas com as pessoas com as quais elas não estão preparadas para lidar". Já no Nook, o leitor digital da Barnes & Noble, a maior rede americana de livrarias, a primeira coisa que a maioria dos leitores faz ao terminar o primeiro volume da trilogia é baixar o segundo.

Antigamente, nem editora nem autor tinham como saber o que acontece quando um leitor senta para ler um livro. Desiste depois de três páginas? Ou termina o livro em uma sentada? A maioria pula a introdução? Ou a lê com interesse, sublinhando trechos e fazendo anotações nas margens?

Isso mudou. O livro eletrônico — o "e-book" — abriu uma janela para a história por trás das cifras de vendas, revelando não só quanta gente compra um determinado livro, mas com que intensidade a obra foi lida.

Durante séculos, a leitura foi, basicamente, um ato solitário e privado, uma troca íntima entre o leitor e as palavras impressas no papel. Mas a popularização do livro digital provocou uma profunda mudança na modo como se lê, transformando a atividade em algo mensurável — e de caráter quase público.

Os principais nomes no setor de e-books — Amazon, Apple e Google — podem facilmente saber o quanto um leitor já avançou no livro, quanto tempo dedica à leitura e que palavras usou na pesquisa para encontrar a obra. Aplicativos de leitura para tablets como iPad, Kindle Fire e Nook registram quantas vezes o leitor abre o aplicativo e quanto tempo passa lendo. Varejistas, e certas editoras, começam agora a digerir esses dados, que renderão uma visão sem precedentes da relação do público com livros.

O meio editorial sempre perdeu para o resto da indústria de entretenimento na hora de determinar gostos e hábitos do consumidor. Na televisão, produtores testam incessantemente novos programas em grupos de discussão; estúdios de cinema submetem filmes a uma bateria de testes e alteram o produto final com base na reação do público. Já no mundo editorial, a satisfação do leitor até aqui era avaliada com dados de vendas e resenhas — o que dá uma medida "post mortem" do êxito, mas não ajuda a influenciar ou a prever o sucesso. Isso começa a mudar à medida que editoras e livreiros vasculham a montanha de dados a seu dispor e que mais firmas tecnológicas entram no negócio.

A Barnes & Noble, dona do leitor digital Nook e de 25% a 30% do mercado de livros eletrônicos nos Estados Unidos, começou há pouco a estudar os hábitos de leitura digital do público. Dados colhidos via Nook revelam, por exemplo, até onde o leitor chega em um determinado livro e qual a relação de leitores deste ou daquele gênero com o livro. Jim Hilt, diretor de e-books da empresa, diz que a Barnes & Noble já começa a dividir suas descobertas com editoras para ajudá-las a criar livros que prendam mais a atenção das pessoas.

Para a empresa, que busca uma fatia ainda maior do mercado eletrônico, há muito em jogo. No último ano fiscal, as vendas do Nook subiram 45% e a de livros digitais para o aparelho, 119%. No todo, a Barnes & Nobble faturou US$ 1,3 bilhão com Nooks e e-books, em comparação com US$ 880 milhões no ano anterior. A Microsoft há pouco pagou US$ 300 milhões por uma fatia de 17,6% do Nook.

Hilt, diz que a empresa ainda está "nos estágios iniciais de um profundo [processo] de análise" e está vasculhando "mais dados do que poderia usar". Mas toda essa informação — reunida por grupos de leitores, não individualmente — já rendeu dados úteis. Algumas simplesmente confirmam o que o varejo já sabia só de examinar listas de best-sellers. Um exemplo: quem usa o Nook para ler o primeiro livro de uma série infanto-juvenil popular como a "Divergente", da escritora Veronica Roth (que a Rocco lança no Brasil em novembro), tende a emendar a leitura de um tomo com a do seguinte, quase como se estivesse lendo um único romance.

Graças à análise de dados gerados pelo Nook, a Barnes & Noble já descobriu que se o livro é de não ficção a leitura tende a ser intermitente, que um romance costuma ser lido de uma só vez e que livros de não ficção tendem a ser abandonados antes. Fãs de ficção científica, romances populares e policiais costumam ler mais obras, e mais depressa, do que leitores de ficção literária.

São revelações que já estão influenciando o tipo de obra que a Barnes & Noble vende no Nook. Hilt diz que quando os dados mostraram que o leitor volta e meia não chega ao fim de longas obras de não ficção, a empresa buscou maneiras de envolver mais o leitor de não ficção e longos ensaios jornalísticos. Daí veio a ideia de lançar a coleção "Nook Snaps", com obras curtas sobre temas variados como religião e o movimento Ocupe Wall Street.

Saber exatamente em que ponto o leitor se cansa também poderia ajudar editoras a criar edições digitais com mais firulas — um vídeo, um link ou algum outro recurso multimídia, diz Hilt. Daria para saber, por exemplo, que o interesse em uma série de ficção está caindo se leitores que compraram e devoraram os dois primeiros volumes de repente perdem o pique para ler novos tomos da série, ou simplesmente desistam.

"A maior tendência que estamos tentando descobrir é em que ponto ocorre esse abandono com determinados tipos de livro e o que daria para fazer com as editoras para evitá-lo", explica Hilt. "Se pudermos ajudar escritores a criar livros ainda melhores do que hoje, todo mundo ganha".

Tem escritor que adora a ideia. O romancista Scott Turow diz que sempre achou frustrante a incapacidade do setor de estudar a base de clientes. "Quando reclamei a um dos meus editores que, depois de tanto tempo publicando, ele ainda não sabia quem comprava meus livros, ele respondeu: 'E aí? Ninguém no meio editorial sabe.'". Turow, que é presidente da associação dos escritores dos EUA, a Authors Guild, acrescenta: "Se der para saber que um livro é longo demais e que é preciso ser mais rigoroso no corte, eu, pessoalmente, adoraria ter essa informação".

Outros temem que esse apego a dados acabe impedindo o escritor de assumir o risco da criação — risco que produz a grande literatura. Um livro "pode ser excêntrico, do tamanho que tiver de ser e, nesse quesito, o leitor não devia meter o bedelho", diz Jonathan Galassi, diretor de operações da editora Farrar, Straus & Giroux. "Não vamos encurtar 'Guerra e Paz' só porque alguém não conseguiu chegar ao fim".

A Amazon, em particular, tem uma vantagem na arena: por ser, ao mesmo tempo, varejista e editora, tem condições únicas de usar dados que coleta sobre os hábitos de leitura de clientes. Não é segredo que a Amazon e outras lojas de livros digitais coletam e guardam informações sobre o consumidor — que livros comprou, que livros leu. Usuários do Kindle assinam um termo que autoriza a empresa a armazenar dados gerados pelo aparelho — incluindo a última página lida pelo usuário, além de seus marcadores, observações e anotações — em servidores da empresa.

A Amazon consegue saber que trechos de livros digitais são populares com o público leitor — e exibe parte dessa informação publicamente em seu site.
"Vemos isso como a inteligência coletiva de todas as pessoas que leem pelo Kindle", diz Kinley Pearsall, porta-voz da Amazon.

Certos defensores da privacidade acham que quem lê um livro eletrônico devia ter a garantia de que seus hábitos de leitura digitais não serão registrados. "Há um ideal na sociedade de que o que alguém lê não é da conta de ninguém", diz Cindy Cohn, diretora jurídica da Electronic Frontier Foundation, uma ONG que defende direitos e a privacidade do consumidor. "Hoje, não há nenhuma maneira de dizer à Amazon que eu quero comprar um livro [no site], mas não quero que xeretem o que estou lendo".

A Amazon não quis comentar a análise e o uso que faz de dados coletados via Kindle.
A migração para o livro digital deflagrou uma verdadeira corrida entre novas empresas de tecnologia interessadas em faturar com a montanha de dados reunida por leitores digitais e aplicativos de leitura. A Kobo, que fabrica leitores, tem um serviço que armazena 2,5 milhões de livros e conta com mais de oito milhões de usuários, verifica quantas horas os leitores dedicam a este ou àquele título e até onde avançam na leitura.

Certas editoras já estão começando a testar digitalmente livros antes de lançar a versão impressa. Mas poucas foram tão longe quanto a Coliloquy. A editora digital, que vende pelo Kindle, pelo Nook e em leitores com sistema Android, tem um formato — o "escolha sua própria aventura" — que permite ao leitor alterar personagens e tramas. Engenheiros da empresa consolidam os dados obtidos de seleções feitas por leitores e mandam o resultado para o autor, que pode ajustar a trama dos próximos livros para refletir a opinião do público.

"Queríamos criar um mecanismo de feedback que até então não existia entre escritor e leitor", diz Waynn Lue, engenheiro da computação que é um dos fundadores da Coliloquy. Fonte: The Wall Street Journal

Narciso Machado

NCM Business Intelligence

E-books ajudam editoras a entender hábitos do leitor.

Empresas leem retinas para entender gostos do consumidor

Fabricantes de bens de consumo estão apostando em novas tecnologias para superar o maior obstáculo na hora de descobrir a verdadeira opinião do consumidor: aquilo que a pessoa diz.

É que o consumidor não é uma fonte muito confiável de informações sobre aquilo que ele mesmo quer. Estudos acadêmicos revelam que participantes de grupos de discussão, por exemplo, buscam agradar quem está aplicando o teste e superestimam o próprio interesse no produto testado. Com isso, fica difícil saber o que vai emplacar ou não. Para a indústria de bens de consumo, é crucial acertar a mão nesses testes, pois fabricantes despacham grandes volumes de produtos ao mercado e não têm contato direto com o consumidor.

Para descobrir o que realmente atrai a atenção do público em um teste de mercado, empresas como Procter & Gamble Co., Unilever PLC e Kimberly-Clark Corp. estão combinando simulações tridimensionais computadorizadas de protótipos de produtos e gôndolas de varejo com a tecnologia de "eye-tracking" , que monitora a movimentação e a fixação do olhar. Isso, por sua vez, está ajudando a lançarem novidades mais depressa e a criar produtos e gôndolas que aumentam as vendas.

Em 2009, pesquisadores da Kimberly-Clark usaram computadores com câmeras de monitoramento da retina para testar a nova embalagem de toalhas de papel, diz Kim Greenwood, gerente da equipe de realidade virtual da empresa. A meta era descobrir que versões da embalagem atraíam o olhar do consumidor nos primeiros dez segundos diante da gôndola — intervalo crucial no qual o produto é reconhecido e colocado no carrinho. E também saber se essa preferência se mantinha independentemente do total de rolos na embalagem.

Ao monitorar a reação de consumidores a várias versões, a Kimberly-Clark descobriu o que atraía a atenção da pessoa, o ponto mais comum de partida e o caminho que o olhar percorria na embalagem. "A combinação desses fatores nos ajudou a optar por um desenho em forma de onda, disse Greenwood.

Pesquisadores vêm observando o movimento dos olhos do consumidor para tentar descobrir o que a pessoa acha do produto desde o começo do século 20. Como a tecnologia melhorou muito nos últimos anos, agora já dá para monitorar a retina para saber exatamente em que ponto o olhar se fixa, por quanto tempo e quantas vezes. Essa informação já serviu para derrubar mitos sobre o que realmente importa no design.

Um deles diz respeito ao tamanho da imagem usada para ilustrar uma embalagem. Certas empresas acham que quanto maior, melhor, diz Michel Wedel, professor de ciência do consumo na faculdade de administração da Universidade de Maryland, nos EUA. Segundo Wedel, estudos com monitoramento da retina mostram que o olho processa imagens com tanta rapidez que nem sempre o tamanho importa.

Com o custo dessa tecnologia óptica caindo, seu uso está se popularizando. Uma câmera de rastreamento de retina incorporada a um computador e a óculos especiais pode custar até US$ 40.000, diz Wedel. A informação que coleta pode ser usada para formar um "mapa de calor" que usa cores para mostrar onde as pessoas olham em uma prateleira simulada.

E tem empresa que vai além: monitora a atividade cerebral de participantes de testes para descobrir que imagens geram reações de prazer, diz David Johnston, diretor da JDA Software Group Inc. Outra técnica existente registra expressões faciais involuntárias para captar a verdadeira reação emocional.

Quando resolveu mudar o frasco do sabonete líquido Axe, a Unilever montou um cenário virtual em 3D e fez todo participante do teste colocar um óculos especial equipado com três esferas monitoradas por sensores que correspondiam a movimentos horizontais e verticais da pessoa dentro da cena virtual, diz Joanne Crudele , diretora mundial da Unilever para estudos técnicos sobre o consumidor na área de higiene pessoal.

Os resultados fizeram a empresa mudar o formato do frasco, que era curvilíneo. Agora é reto. A marca ganhou um X negro e fundo azul para ficar mais visível. A letra usada na descrição do produto agora é maior. Depois de usar o "eye-tracking" para testar a área de desodorante nas gôndolas, a Unilever sugeriu às lojas prateleiras inclinadas para que quando alguém retire um produto, o de trás venha para a frente — e para que a embalagem esteja sempre de frente para o consumidor. Numa varejista, as vendas de desodorantes subiram 3,5%.

"Com uma gôndola virtual, basta clicar no mouse para, em poucos segundos, mudar o produto, a embalagem, o display — e realmente cocriar com o consumidor, quase em tempo real", disse Crudele, da Unilever.

Bob McDonald, diretor-presidente da P&G, diz que a tecnologia também ajuda a cortar custos no projeto de produtos. Segundo ele, a maioria dos protótipos físicos custa mais de US$ 1.500. Agora, 80% dos novos produtos da empresa são desenvolvidos usando alguma técnica de modelagem virtual ou simulação.  Fonte: The Wall Street Journal

Narciso Machado

NCM Business Intelligence

Empresas leem retinas para entender gostos do consumidor